“A "rosa"
de João Almeida embalou ano memorável para o ciclismo português”
Quarto classificado no Giro e "rei da montanha" Ruben Guerreiro
animaram panorama da modalidade

Por:
Lusa
Foto: DR
O "sonho rosa" de
João Almeida coloriu o ano memorável do ciclismo português que, na
estrada, encontrou novos heróis no quarto classificado do Giro e no
"rei da montanha" Ruben Guerreiro, e na pista celebrou dois inéditos
ouros europeus.
Num 2020 atípico, profundamente condicionado pela pandemia de
covid-19, os portugueses deram cartas numa temporada em versão
concentrada, com o jovem de A-dos-Francos a ser mesmo uma das
figuras nacionais do ano, por ter conseguido prender todo um país à
televisão durante três semanas e seduzir o público para uma
modalidade muitas vezes esquecida pelos meios de comunicação.
Aos 22 anos, o ciclista da Deceuninck-QuickStep escreveu a página
mais bonita do ciclismo português na Volta a Itália, concluindo a
103.ª edição da 'corsa rosa', que liderou durante 15 dias, na quarta
posição.
Mais do que melhorar o registo de José Azevedo (foi quinto em 2001),
o miúdo de A-dos-Francos (Caldas da Rainha) fez Portugal sonhar com
um inédito triunfo numas das grandes Voltas, um sonho desfeito pelo
"gigante" Stelvio, onde se bateu como um herói, mas perdeu a 'maglia
rosa' a três dias do final.
Na memória ficará a tenacidade e espetacularidade da sua exibição,
mais do que o quarto lugar ou todas as marcas que bateu naqueles 15
dias de outubro -- além de ser já o melhor sub-23 da história do
Giro e o português que mais dias liderou uma grande Volta, foi mesmo
o segundo ciclista nesse 'ranking' particular este ano, atrás apenas
do esloveno Primoz Roglic, que andou de amarelo (no Tour, no qual
perdeu a vitória para o compatriota Tadej Pogacar no penúltimo dia)
e vermelho (na Vuelta, que venceu pelo segundo ano consecutivo)
durante 23 jornadas.
Só João Almeida conseguiu ofuscar o brilho de Ruben Guerreiro (Education
First), o primeiro "rei da montanha" português numa das grandes
Voltas -- e o primeiro ciclista nacional a vencer uma camisola de
classificação principal no Giro, Tour ou Vuelta.
Aos 26 anos, o corredor de Pegões Velhos (Montijo) começou por fazer
história para Portugal logo na nona tirada, quando quebrou um jejum
que vinha de 1989, data da última de cinco vitórias em etapa de
Acácio da Silva, ao triunfar em Roccaraso, naquela que foi a sua
estreia a vencer em grandes Voltas.
Foram os dois jovens lusos que estiveram em destaque na estrada, num
decalque daquilo que foi a temporada velocipédica internacional, mas
também o experiente Nelson Oliveira merece um lugar na galeria dos
campeões, por ter subido ao pódio no Tour e na Vuelta, como vencedor
da classificação por equipas com a sua Movistar.
Num ano duríssimo para o pelotão nacional, que praticamente não
competiu entre a Volta ao Algarve, em fevereiro, e a edição especial
da Volta a Portugal, promovida pela Federação Portuguesa de Ciclismo
para salvar a época de estrada aniquilada pela pandemia de covid-19,
a temporada do ciclismo português delineou-se fora de portas e
alastrou-se pelas diversas vertentes da modalidade, nomeadamente com
o novo momento de glória de Tiago Ferreira, que se sagrou
vice-campeão mundial de maratona BTT.
Mas foi na pista que Portugal se destacou como nunca até agora. Os
primeiros sinais de que o trabalho desenvolvido no Velódromo de
Sangalhos (Anadia) já é equiparável ao das grandes nações europeias
foram dados pelos jovens Daniela Campos, campeã da Europa júnior de
eliminação em pista, Maria Martins e Iuri Leitão, que conquistaram
um total de oito medalhas nos Europeus de sub-23 e juniores, em
Fiorentuola d'Arda, Itália.
Seria, contudo, a cidade búlgara de Plovdiv a ficar eternizada na
história do ciclismo de pista português, como palco de um
impressionante desempenho da seleção nacional, que somou seis
medalhas, entre as quais dois ouros, nos Europeus, sendo mesmo a
quarta nação mais medalhada, atrás apenas das consagradas
Grã-Bretanha, Rússia e Itália.
Aos inéditos títulos europeus alcançados por Iuri Leitão, campeão em
scratch, e Ivo Oliveira, ouro na perseguição individual, Portugal
juntou a prata de Leitão na eliminação e o bronze no omnium, a prata
de Ivo em Madison, conquistada juntamente com o irmão gémeo Rui
Oliveira, e o bronze de Maria Martins na eliminação.
Todos os portugueses que estiveram nos Europeus de pista de elite
regressaram com medalhas, merecendo (quase) as mesmas homenagens
que, semanas antes, o país prestou aos heróis da Volta a Itália. Os
feitos do ciclismo foram mesmo enaltecidos pelo Comité Olímpico de
Portugal, com o presidente do organismo, José Manuel Constantino, a
reconhecer que "não é muito habitual" assistir-se a tantos feitos na
modalidade num tão curto espaço de tempo (dois meses).
Fonte: Record on-line |